sábado, 15 de fevereiro de 2014

O "pop progressivo" do Yes - Uma aula de música.



Boa tarde amigos da música inteligente!

Hoje, vide o título do post, gostaria de falar-lhes sobre o Yes, que para mim é a maior banda de rock progressivo da história e, evidentemente, uma de minhas "bandas de cabeceira".

Inicialmente, cumpre esclarecer já dissertei sobre rock progressivo em outras oportunidades aqui no blog (ver em In a Glass House - Gentle Giant; Selling England by the Pound - Genesis; Focus III - FocusAwake - Dream Theater - e ainda há muito mais por vir), no entanto, não vejo outra maneira de falar em Yes sem, ainda que muito brevemente, escrever sobre a história do rock progressivo, que invariavelmente se confunde com a sua própria história. Senão vejamos.

O rock progressivo surgiu com força na Inglaterra, no final da década de sessenta, como uma espécie de "passo adiante", via de regra, ao rock psicodélico, muito popular na época. Neste prisma, bandas como Pink Floyd e o próprio Yes iniciaram suas respectivas carreiras com álbuns psicodélicos, mas logo amadureceram o estilo em tela (rock progressivo), de certa forma criando-o, fortalecendo-o e popularizando-o.

Ato contínuo, as principais influencias do rock progressivo clássico são o rock psicodélico, a música clássica e o jazz rock (ou fusion, como muitos preferem intitular, inclusive este blogueiro que vos fala). Outras bandas, porém, foram influenciadas pelo blues (Jethro Tull), folk (Focus), e até pelo hard rock e heavy metal (Rush), incrementando-os com uma sonoridade muito específica e em uma linguagem musical complexa.

Ocorre que as bandas mais populares que flertaram com o estilo moldaram-lo de forma sui generis; com músicas longas, letras fictas, instrumentais megalômanos, álbuns conceituais, instrumentos musicais clássicos e afins. Sendo assim, o referido estilo musical desvirtuou, de certa forma, a essência do rock, que era simples e cheio de atitude; não a toa, muitos não consideram o rock progressivo como rock, mas sim, como música progressiva. Em outras palavras, os fãs mais conservadores do rock  torceram (e ainda torcem) o nariz para o referido gênero musical.

No entanto, sob a minha ótica, o rock progressivo não é apenas caracterizado pelos adjetivos supra; a música, quando de qualidade - como sempre gosto de ressaltar - é muito mais do que isso. Neste diapasão, bandas menos populares do estilo em baila não se utilizaram  de todos os elementos acima arrolados (e aqui, meu exemplo preferido é o Gentle Giant). Mas essa é outra discussão, que retornará em futuras oportunidades.

Voltando a história, após aproximadamente dez anos de enorme popularidade musical, o rock progressivo foi perdendo a força devido ao surgimento de novos estilos musicais, como a new wave e o ska, e ao ressurgimento do rock clássico por meio do punk rock, que ia na contra-mão da complexidade musical no rock, por entendê-lo de forma simples e novamente agressiva. A popularidade se foi, mas seus fãs permaneceram, muitos dos quais tão conservadores quanto os amantes do rock simplificado; conclui-se, portanto, que se o fã do rock simplificado torce o nariz para o rock progressivo, a recíproca é tão válida quanto verdadeira.
      
E o Yes, caro leitor, vivenciou todas essas fases musicais acima mencionadas. O inicio psicodélico, com seu primeiro álbum auto-entitulado até "The Yes Album"; seu auge progressivo, com verdadeiras obras primas, como "Close to the Edge", "Fragile", "Relayer", "Tales From Topographic Oceans" etc.; até o pop e a new wave, com os excelentes 90125, The Big Generator etc.

Entretanto, conforme supradito, se os fãs conservadores do rock progressivo torcem o nariz para a cena musical dos anos 80, é de se imaginar que a rejeição do Yes quando compôs nessa linha fora absoluta, correto?

Chegamos, caros amigos, a baila do post de hoje no Planeta Música Inteligente!

Foram tantas as formações do Yes que nem cabe mencioná-las em específico; para o post em tela, há que se ressaltar, tão somente, dois guitarristas da história da banda que influenciaram sua música em dois quase absolutos opostos, quais sejam o clássico Steve Howe e o moderno Trevor Rabin.

Steve Howe advém da escola da música clássica. Ponto. Não é adepto de quaisquer distorções na guitarra, gosta de experimentar diferentes timbres em diferentes instrumentos de corda, é um magnífico compositor de peças para violão clássico, e faz backing vocals com competência.

O sul-africano Trevor Rabin, por sua vez, advém de uma escola musical mais popular, é adepto as guitarras distorcidas, é excelente compositor (inclusive de trilhas sonoras para o cinema) e um cantor, na minha opinião, excepcional.

De minha parte, não há preferência entre um ou outro. Ambos são excepcionais, cada qual a sua maneira, e trabalham de maneira diferente. A arte, em sua infinita beleza, torna incomparável dois artistas acima da média; e Howe e Rabin o são.

Howe representa o rock progressivo do Yes. O popular rock progressivo do Yes. O estilo que consagrou a banda e conquistou a admiração de milhares de fãs por todo o planeta, influenciado diversas outras bandas até hoje.

Rabin representa a chamada "fase pop" do Yes. Sim, pop, que advém de popular, ou seja, que pertence e concerne ao povo, que desperta a sua simpatia e o torna, destarte e por obvio, muito famoso e conhecido.

Não a toa, o maior sucesso comercial do Yes é o álbum 90125, com clássicos absolutos, como Owner of a Lonely Heart, Changes e Hold On.

E a receita para a popularização, à época, era óbvia; músicas com menor duração, com fórmulas melódico / harmônicas mais simples, instrumentais com células rítmicas menos massantes e afins. O Yes caiu no gosto do público menos "cult" e mais liberal oitentista, com absoluto mérito para Rabin.

Os fãs ortodoxos, conservadores e até extremos da banda e do gênero progressivo foram absolutamente contrariados com a inserção do pop sintetizado na sonoridade do Yes. Onde foram parar as grandes suítes de Relayer, os instrumentais complexos de Close to the Edge, as letras astrológicas, quiçá astronômicas e viajadas de Tales From Topographic Oceans e afins? "O Yes se vendeu", foi (e é até hoje) o que disseram seus antigos fãs. E, no fundo, não se pode culpá-los. O choque deve (pois não o vivenciei) ter sido enorme.

Mas...

Eu, fã das duas fases da banda, prefiro a fase popular do Yes.

Batendo novamente na mesma tecla, a música de qualidade INDEPENDE de rótulos. O Yes antigo e o moderno são bandas distintas, com sonoridades distintas, mas ambas de extremada qualidade. Os músicos que passaram e fizeram parte da banda formaram uma verdadeira seleção de melhores em seus estilos. Se a composição do Yes fora sempre complexa, suas performances ao vivo sempre excederam expectativas. E a sonoridade pop do Yes, em referência aos anos oitenta, nunca fora menos complexa; apenas mais popular, que são duas coisas absolutamente distintas.

Mas a mudança no gênero musical nos anos oitenta do século XX não fora exclusividade do Yes. O Genesis e o Rush, só para citar dois exemplos, também compuseram em diferentes linguagens musicais. Afinal de contas, VIVA a diferença e VIVA a novidade ;) .

Quando progressivo, o Yes fora popular; quando pop rock, o Yes fora ainda mais popular. Dai advém o "pop progressivo", pois enfim, independentemente do gênero musical experimentado e executado pelo Yes ao longo dos mais de cinquenta anos da banda, sua música jamais perdeu a qualidade e essência, que corrobora, sem sombra de dúvidas, o melhor da música inteligente, e, ademais, uma verdadeira aula de música e referência a cantores e instrumentistas ao redor do mundo, independentemente de rótulos e afins.

A música de qualidade, meus amigos, deve ser vista sem preconceitos; seja pop, rock, samba, ska, progressiva, folk ou afins, o que importa é que ela toque nossos ouvidos e corações, dai a qualidade, dai a legitimidade do músico quando a compôs.

Algumas indicações do "Yes Pop":

90125, com os maiores sucessos comerciais da banda:


The Big Generator, com a fantástica "Love Will Find Away":

   
E, enfim, Talk, meu álbum favorito da fase mais popular da banda, com Rabin na guitarra e a melhor mix e master de batera de todos os álbuns da banda, na minha opinião:


Ademais, se a sugestão de áudio fora a popular, a de vídeo é a clássica, com o excepcional "Yes Symphonic Live", um de meus shows favoritos de todos os tempos, apenas para ressaltar que ambas as fases são especiais para o meu gosto, fã da banda, que gostaria que a música de qualidade fosse vista sem preconceitos:

Yes Symphonic Live

A título de curiosidade, quando comprei o DVD supra, o assisti todas as noites por pelo menos dois anos.

Enjoy!

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